Enfermeira Paula Gonçalves
Enfermeira Paula Gonçalves
17 Mar, 2020 - 06:10

Familiar em casa com COVID-19? Saiba que cuidados deve ter

Enfermeira Paula Gonçalves

Se tem um familiar em casa com COVID-19, fique a par do que a enfermeira Paula Gonçalves tem para lhe dizer.

Mulher a colocar máscara de proteção reutilizável

Com o aumento do número de casos de COVID-19 no nosso país, coloca-se a questão da capacidade de resposta dos sistema de saúde e quais as opções e regimes de internamento para o crescente número de infectados.

Estima-se que 80% dos casos venha a ser ligeiro, sem necessidade de cuidados especiais e que possa ser tratado em casa. Alguns casos não desenvolvem qualquer sintoma, mas todos continuam a ser, no entanto, possíveis fontes de transmissão.

Seja por necessidade de quarentena por suspeita de infeção ou contacto com doente infetado, seja por necessidade de internamento domiciliário, importa saber quais os cuidados e medidas a dotar para a segurança de toda a família. Neste artigo, vamos dar-lhe a conhecer as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o cuidado de familiar em casa com COVID-19 (1).

familiar em casa com COVID-19: quais os cuidados a ter?

Familiar em casa com Covid-19: desinfetar as mãos

O principal objetivo destes cuidados é evitar o contágio aos restantes membros da família durante o período de quarentena ou tratamento e acrescem às medidas gerais a adotar pela população em geral:

  1. O doente deve ter um quarto individual bem ventilado (com janela). O quarto não deverá ser partilhado com nenhum outro membro da família.
  2. Limitar os movimentos do doente pela casa. Os espaços partilhados devem ser o mais limitados possível. Na necessidade de partilha de espaços (ex. cozinha ou casa de banho) garantir que estes são bem ventilados.
  3. Os restantes membros da família devem manter-se em diferentes divisões da casa. Se tal não for de todo possível, uma distância de pelo menos 1 metro do familiar infetado deverá ser mantida.
  4. Limitar o número de cuidadores. Idealmente, definir um único, preferencialmente saudável, sem doenças crónicas ou imunidade comprometida (ex. grávidas, doentes transplantados, idosos).
  5. Lavar as mãos após qualquer tipo de contacto com o doente ou o ambiente em que este se encontra (mobiliário, roupas, …). As mãos também deverão ser lavadas com água e sabão antes e após a preparação de alimentos, antes das refeições, após usar a casa de banho e sempre que visivelmente sujas. Se não estiveram visivelmente sujas, pode ser usada uma solução desinfectante de base alcoólica.
  6. Após a lavagem das mãos com água e sabão dar preferência a toalhetes de papel descartáveis para a secagem das mãos. Se utilizar toalhas de tecido estas devem ser substituídas sempre que molhadas.
  7. O doente deverá manter máscara de proteção. Se, por alguma razão, não for tolerada a máscara, deve ser mantida uma higiene respiratória rigorosa – boca e nariz deverão ser cobertos com lenços de papel sempre que o doente tussa ou espirre.
  8. Os cuidadores que necessitem partilhar o mesmo espaço físico ou divisão que o doente deverão usar máscara adequada e ajustada à face. Se a máscara ficar molhada ou suja de secreções deverá ser substituída de imediato por uma máscara limpa. Retirar a máscara com a técnica adequada – nunca tocar a “frente” da máscara – retirá-la desapertando as fitas ou alargando os elásticos (dependendo do modelo de máscara). Remover a máscara imediatamente após o uso e lavar cuidadosamente as mãos.
  9. Evitar o contacto direto com fluidos corporais do doente, particularmente secreções da boca ou via respiratória. Use luvas descartáveis se precisar entrar em contacto com qualquer fluido corporal do doente. Lave as mãos antes e depois de remover máscara e luvas. A utilização de luvas não substitui nunca a lavagem das mãos.
  10. Não reutilize máscaras e luvas.
  11. Todas as roupas e utensílios deverão ser de uso exclusivo do doente e lavados com água e sabão.

Quem poderá ser tratado em regime domiciliário?

Familiar em casa com Covid-19: precauções a tomar

Os casos considerados leves poderão receber tratamento domiciliário. Isso permitirá libertar os hospitais para os casos graves, disponibilizando meios humanos e materiais apenas existentes em contexto hospitalar, como, por exemplo, a possibilidade de terapia intensiva e o recurso a ventilação mecânica, através de ventiladores ou técnicas mais complexas e invasivas .

Também poderão ser considerados para tratamento domiciliário doentes que, embora sintomáticos, já não careçam de cuidados hospitalares.

Outra situação contemplada pela OMS para este tipo de regime é a rutura do sistema de saúde existente, quando já não existe capacidade de internamento hospitalar ou se a hospitalização deixou de ser segura por sobrecarga dos serviços de saúde disponíveis (o que acontece perante recursos limitados e em que a procura é largamente superior à capacidade de resposta).

A OMS recomenda que previamente ao internamento domiciliário as condições físicas da habitação e a capacidade de adesão da família às precauções recomendadas sejam avaliadas por um profissional de saúde e que os familiares sejam treinados na utilização de dispositivos de proteção (que tipo de equipamentos usar, como colocar e retirar máscaras e luvas, por exemplo) e educados acerca das medidas básicas de controle de infeção.

O que é considerado caso de infeção por COVID-19 com sintomas ligeiros?

São considerados casos ligeiros os que apresentam febre, tosse seca, sensação de mal estar, corrimento nasal e/ou dor de garganta. Estes sintomas são habitualmente leves e aparecem de forma gradual.

Os casos mais graves evoluem com falta de ar ou dificuldade em respirar, expectoração (com ou sem sangue), sintomas gastrointestinais como sensação de enjoo, vómitos e/ou diarreia e alterações do estado de consciência como confusão e letargia.

As evidências apontam para que 1 em cada 6 pessoas infetadas desenvolva dificuldade respiratória e fique gravemente doente. Idosos e pessoas com problemas de saúde já existentes como diabetes, hipertensão e doença cardíaca são mais propensos a desenvolver doença grave.

Fontes

  1. WHO (2020). Home Care for patients with suspected novel coronavirus (nCoV) infection presenting with mild symptoms and management of contacts. Disponível em: https://www.who.int/publications-detail/home-care-for-patients-with-suspected-novel-coronavirus-(ncov)-infection-presenting-with-mild-symptoms-and-management-of-contacts
  2. ECDC (2020) Infection prevention and control for COVID-19 in healthcare settings. Disponível em: https://www.ecdc.europa.eu/en/publications-data/infection-prevention-and-control-covid-19-healthcare-settings
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