Psicóloga Ana Graça
Psicóloga Ana Graça
01 Mar, 2018 - 16:35

Tratamento da Esquizofrenia: qual o melhor?

Psicóloga Ana Graça

No tratamento da esquizofrenia há sempre uma combinação de três componentes fundamentais: a medicação para aliviar sintomas e evitar recaídas; a psicoterapia para ajudar os doentes e os familiares a lidar com a doença e evitar recaídas e a reabilitação psicossocial para ajudar os doentes a reintegrarem-se na comunidade.

Tratamento da Esquizofrenia: qual o melhor?

Quase 43% da população portuguesa sofreu de perturbações mentais ao longo da vida e, entre as doenças mentais que provocam maiores perdas em saúde e no funcionamento pessoal encontra-se a esquizofrenia. Analisando estes factos, rapidamente percebemos a importância que assume a constante busca por um melhor tratamento da esquizofrenia.

Tratamento da esquizofrenia

Os métodos terapêuticos utilizados no tratamento da esquizofrenia têm evoluído graças ao aparecimento de fármacos, mas também ao desenvolvimento de outras formas de intervenção como a psicoterapia e a reabilitação psicossocial.

1. Fármacos

tratamento da esquizofrenia e farmacos

Os antipsicóticos atípicos (ação antipsicótica ) são os fármacos preferencialmente usados no tratamento de pacientes com esquizofrenia, mostrando ser os mais eficazes e mais seguros.

O tratamento da esquizofrenia, a nível farmacológico, compreende três fases que correspondem à progressão da doença:

  1. fase aguda – utilizados fármacos antipsicóticos que visam a redução da ansiedade e da agitação psicomotora e a rápida remissão dos sintomas da doença;
  2. fase de estabilização – decorre entre a remissão dos sintomas e a alta hospitalar;
  3. fase de manutenção – monitorização dos efeitos secundários da medicação e despiste de sinais de recaída.

A questão dos efeitos secundários é um problema significativo para muitos dos doentes com esquizofrenia e determina muitas vezes a não adesão ao tratamento.

A não adesão ao tratamento farmacológico está também associada a características da própria patologia: recusa em admitir a doença; conhecimentos insuficientes sobre a esquizofrenia e sobre a importância da medicação; atitude negativa face ao tratamento e à sua duração; comunicação inadequada entre doente, família e profissionais de saúde.

Por vezes, no tratamento da esquizofrenia são também utilizados outros medicamentos que potenciam a eficácia dos antipsicóticos. Estes outros medicamentos estão direcionados para o controlo da agitação e da agressividade, bem como para atuar ao nível do humor.

Assim sendo, os estabilizadores de humor e antidepressivos desempenham um papel fundamental no tratamento da esquizofrenia, estimulando a redução da sintomatologia depressiva e controlando impulsos de agressividade.

Importa salientar que a medicação a ser utilizada deve ter sempre em conta as especificidades de cada paciente e ser sempre prescrita pelo médico que acompanha o doente.

O tratamento da Esquizofrenia com recurso apenas à farmacoterapia tem sido associado a taxas elevadas de descontinuação e persistência de sintomas, daí que surjam novas abordagens no domínio da psicoterapia e suplementação nutricional.

2. Psicoterapia

consulta de psicoterapia

A psicoterapia não pretende substituir a medicação mas complementar os seus efeitos de modo a obter um melhor resultado.

Ao longo dos tempos várias foram as abordagens psicoterapêuticas utilizadas, muitas vezes com resultados pouco animadores, exceto no caso da psicoterapia cognitivo-comportamental que tem sido aplicada com maior sucesso. Esta terapia tem por base a criação de uma forte aliança terapêutica entre o terapeuta e o doente e defende que as emoções e o comportamento de um indivíduo estão diretamente ligados à forma como este avalia suas experiências no mundo.

A recuperação das funções cognitivas assume igualmente um importante papel na recuperação do doente, pois estima-se que 90% das pessoas com esquizofrenia apresentam défices cognitivos clinicamente significativos.

Tendo em conta que a farmacoterapia ainda não apresenta resultados nesta área fundamental na recuperação do doente, novos estudos foram surgindo na área da psicoterapia na tentativa de criar uma abordagem centrada nos défices neurocognitivos.

Neste contexto surgiu a Terapia de Remediação Cognitiva. Os doentes integrados nesta terapia realizam um conjunto de exercícios cognitivos direcionados para o treino da memória, atenção e capacidade de resolução de problemas, numa sequência de complexidade progressivamente crescente.

3. Reabilitação Psicossocial

entre-ajuda

Os programas de reabilitação psicossocial procuram recuperar a autonomia, a individualidade e a capacidade de socialização e relacionamento e têm-se mostrado eficazes no treino das competências necessárias para a reinserção comunitária dos doentes com esquizofrenia.

Incluem diversas valências, nomeadamente ao nível de: formação profissional; emprego apoiado; emprego protegido; atividades de vida diária; relações de grupo; gestão do dinheiro e do orçamento doméstico.

Estes programas de reabilitação têm como objetivo ensinar às pessoas todas as habilidades de que precisam para viver em comunidade.

Estas habilidades permitem que as pessoas com esquizofrenia trabalhem, cuidem de si mesmas, mantenham uma casa e mantenham relacionamentos significativos.

As equipas de reabilitação devem ser multidisciplinares e contar com técnicos habilitados a desenvolver trabalho comunitário.

Dieta Cetogénica e Esquizofrenia: qual a relação?

alimentos dieta cetogenica

O papel da nutrição na nossa saúde física tem sido sobejamente estudado e comprovado, mas só mais recentemente apareceu associado às patologias mentais.

A dieta Cetogénica tem surgido, em várias investigações, associada ao tratamento da esquizofrenia e já em 1921 era utilizada como tratamento anti-convulsivo.

Estes estudos defendem que uma dieta rica em gorduras benéficas, pobre em hidratos de carbono simples e com uma ingestão equilibrada de proteínas diminui os sintomas associados à esquizofrenia e normaliza os comportamentos patológicos.

Sustentam ainda que este regime alimentar traz outras vantagens adicionais, atuando ao nível do peso corporal, dos problemas cardiovasculares e da diabetes.

Contudo, ainda não é claro que a dieta cetogénica possa melhorar os sintomas psiquiátricos. Estas pesquisas apresentam ainda várias limitações e necessitam de resultados mais robustos e fidedignos.

Todavia, a alimentação deve ser encarada como mecanismo de proteção e prevenção e, cada vez mais investigações têm vindo a mostrar que aquilo que comemos parece, de facto, influenciar a nossa saúde mental.

Tratamento da esquizofrenia: intervenção com a família

medico bem disposto

A esquizofrenia é uma patologia crónica complexa que pode levar o doente à dependência e à desorganização, originando uma elevada sobrecarga para os familiares que prestam cuidados.

O cuidado intenso e permanente que a doença pode requerer torna-se numa sobrecarga significativa para os cuidadores.

Esta sobrecarga mostra a necessidade de intervir ao nível da família, dando espaço aos cuidadores para exteriorizarem os seus conflitos emocionais, situações de crise e dúvidas, garantindo-lhes o suporte psicológico que lhes permita enfrentar as adversidades diárias.

Conclusão

Embora cerca de 70% dos doentes melhorem quando tratados com antipsicóticos, dada a diversidade de problemas e dificuldades que surgem em cada um deles, é essencial aplicar mais do que uma única técnica/terapêutica, sendo por isso necessário desenvolver uma intervenção multifacetada e multidisciplinar.

Os componentes de um eficaz tratamento da Esquizofrenia incluem psicoeducação, medicação, treino de competências, tratamento comunitário intensivo e treino de atividades de vida diária.

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