Nutricionista Hugo Canelas
Nutricionista Hugo Canelas
27 Out, 2020 - 17:27

D2 ou D3: qual é a diferença entre os tipos de vitamina D?

Nutricionista Hugo Canelas

O interesse do público geral por este nutriente é cada vez maior, mas poucas pessoas sabem que existe mais do que um tipo de vitamina D.

Tipos de vitamina D

A vitamina D é mais do que uma vitamina. Na verdade, este composto é essencialmente uma pré-hormona esteróide sintetizada a partir do colesterol quando expomos a pele às radiações solares.

Os tipos de vitamina D mais comuns na dieta são a D2 – ou ergocalciferol – e a D3 – ou colecalciferol – e, embora ambos sejam necessários para suprir as necessidades diárias neste nutriente, tanto um como outro apresentam diferenças importantes entre si.

Neste artigo fique a conhecer as principais diferenças entre os dois tipos mais comuns de vitamina D.

O que é a vitamina D?

Mulher a desfrutar do sol na janela de casa

A vitamina D é uma vitamina lipossolúvel, o que significa que apenas pode ser dissolvida em gorduras e óleos e, por isso, pode ser armazenada no organismo durante grandes períodos de tempo.

Após ingestão, esta vitamina necessita de ser convertida na sua forma ativa e este processo envolve duas reações distintas, uma no fígado e outra nos rins (1, 2). No entanto, a vitamina D também é produzida pelo organismo, a partir do colesterol e na pele, após exposição aos raios solares ultravioleta B (3).

Quando na sua forma ativa, o calcitriol, a vitamina D liga-se aos seus recetores espalhados por todas as partes do corpo, afetando o comportamento de várias células ligadas à saúde óssea (4). Porém, esta não é a única função da vitamina D e vários estudos confirmam o seu papel no sistema imunitário (5).

Alguns exemplos de alimentos ricos em vitamina D incluem (6):

AlimentoVitamina D% DRI
Óleo de fígado de bacalhau, 1 c. sopa (15 ml)1,360 IU / 34 mcg227%
Salmão, cozinhado (85 g)447 IU / 11 mcg75%
Atum em água, (85 g)154 IU / 4 mcg26%
Fígado de vaca, (85 g)42 IU / 1 mcg7%
1 ovo grande41 IU / 1 mcg7%

Embora alguns alimentos apresentem efetivamente quantidades expressivas de vitamina D, para obter as doses diárias recomendadas, deverão ser ingeridos quase todos os dias, o que no geral e na prática não se verifica.

Felizmente, é pratica comum o enriquecimento de alimentos com vitamina D, como leite, margarinas, sumo de laranja e cereais de pequeno-almoço, ou ainda a toma de suplementos, preferencialmente com refeições com um teor aceitável de gordura (7).

Tipos de vitamina D: D2 e D3

Variedade de alimentos ricos em vitamina D

Como referido anteriormente, existem dois tipos de vitamina D, que diferem dependendo da fonte alimentar a partir da qual são obtidos.

Vitamina D2

A vitamina D2 está mais presente nas plantas ou nos alimentos fortificados. Para além dos suplementos, está presente nos cogumelos (especialmente aqueles cultivados com luz ultravioleta) e alimentos fortificados como cereais de pequeno-almoço e sumos de fruta.

Vitamina D3

A vitamina D3 é quase exclusiva dos alimentos de origem animal. Algumas fontes de vitamina D3 incluem os peixes gordos e os seus óleos, fígado de animais, gema do ovo, manteiga e suplementos.

Alimentos ricos em vitamina D: gema de ovo
Veja também 20 alimentos ricos em vitamina D

Tipos de vitamina D: DIFERENÇAS ENTRE VITAMINA d2 e D3

Mulher a relaxar ao sol
1

Produção e ativação

Uma das grandes diferenças entre os dois tipos de vitamina D é o seu local de produção. A vitamina D3 é produzida na pele, após exposição solar, através do composto 7-desidrocolesterol (8).

Um processo semelhante acontece nas plantas e cogumelos, onde a luz ultravioleta leva à formação de vitamina D2 a partir do ergosterol, um composto encontrado nos óleos vegetais (9).

Assim sendo, as pessoas que vivem em zonas com abundância de sol ou que se expõem regularmente, obtêm toda a vitamina D necessária apenas com exposição solar algumas vezes por semana.

2

Eficácia e interesse clínico

Do ponto de vista analítico, concentrações sanguíneas de vitamina D menores que 12 ng/dL refletem uma ingestão inadequada de vitamina D, mas níveis superiores a 20 ng/dL são mais do que adequados para quase toda a gente.

A dose diária recomendada de ingestão de vitamina D é a seguinte (6):

  • 400 IU (10 mcg): crianças entre os 0 e 12 meses
  • 600 IU (15 mcg): crianças e adultos de 1 a 70 anos
  • 800 IU (20 mcg): idosos com mais de 70 anos, grávidas e lactantes

No entanto, os dois tipos de vitamina D não são semelhantes no que toca a normalizar os valores plasmáticos. Embora ambos sejam igualmente absorvidos para a corrente sanguínea, a vitamina D2 e a D3 são metabolizadas de formas diferentes.

O fígado metaboliza a vitamina D2 em dois compostos: a 25-hidroxivitamina D2 e a 25-hidroxivitamina D3. Estes dois compostos são coletivamente conhecidos como calcifediol. O colecalcifediol é a principal forma de vitamina D circulante e os seus níveis sanguíneos refletem as reservas deste nutriente, sendo este o parâmetro que é avaliado nas análises.

Todavia, durante o processo de conversão de ergocalciferol e colecalciferol à forma ativa de vitamina D, o calcitriol (ou 1,25-hidroxivitamina D), ocorre a inativação e perda irreversível do ergocalciferol. Porém, o colecalciferol mantem a sua capacidade para se ligar aos recetores de vitamina D e dar origem ao composto bioativo (10, 11).

Neste sentido, se está a fazer suplementação em vitamina D, o ideal será escolher a forma D3 uma vez que parece ser o tipo mais relevante para a saúde humana.

3

Qualidade dos suplementos

Há fortes indícios que a vitamina D2 suplementada apresente uma qualidade inferior relativamente à D3. Um estudo sugere que a vitamina D2 é mais sensível à humidade e flutuações de temperatura e, por estas razões, seja mais perecível ao longo do tempo (12).

No entanto, se essa informação é ou não relevante para humanos, ainda é uma incógnita. Até haver mais ensaios clínicos em humanos, garanta apenas que o seu suplemento de vitamina D2 se encontra fechado num local fresco, longe de fontes de luz direta e à temperatura ambiente.

Conclusão

A vitamina D não é apenas um composto, mas antes uma família de nutrientes. A forma D3 é maioritariamente produzida na nossa pele, mas pode também ser encontrada em alimentos de origem animal. Em contraste, a vitamina D2 é de origem vegetal.

De acordo com pesquisas recentes, a forma D3 parece mais eficaz na regularização dos níveis séricos de vitamina D, apenas porque há inativação do ergocalciferol – ou vitamina D2 – durante o seu metabolismo renal.

Para manter níveis adequados de vitamina D, garanta a exposição solar com a devida proteção, bem como a ingestão de alimentos ricos neste nutriente. Consulte o seu médico assistente ou nutricionista na altura de tomar suplementos de vitamina D3.

Fontes

  1. Norman AW. (2008). From vitamin D to hormone D: fundamentals of the vitamin D endocrine system essential for good health. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18689389/
  2. Christakos S, et. al. (2010). Vitamin D: metabolism. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20511049/
  3. Bogh MK, et. al. (2011). Vitamin D production depends on ultraviolet-B dose but not on dose rate: a randomized controlled trial. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21158934/
  4. DeLuca HF. (1980). The control of calcium and phosphorus metabolism by the vitamin D endocrine system. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/7015957/
  5. Lappe, J. M. (2011). The Role of Vitamin D in Human Health: A Paradigm Shift. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/1533210110392952
  6. NIH. (2020). Vitamin D. Disponível em: https://ods.od.nih.gov/factsheets/VitaminD-HealthProfessional/
  7. Grossmann RE, Tangpricha V. (2010). Evaluation of vehicle substances on vitamin D bioavailability: a systematic review. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20425758/
  8. Alshahrani F, Aljohani N. (2013). Vitamin D: deficiency, sufficiency and toxicity. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24067388/
  9. Jäpelt RB, Jakobsen J. (2013). Vitamin D in plants: a review of occurrence, analysis, and biosynthesis. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23717318/
  10. Tripkovic L, Lambert H, Hart K, Smith CP, Bucca G, Penson S, Chope G, Hyppönen E, Berry J, Vieth R, Lanham-New S. (2012). Comparison of vitamin D2 and vitamin D3 supplementation in raising serum 25-hydroxyvitamin D status: a systematic review and meta-analysis. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22552031/
  11. Glendenning P, Chew GT, Inderjeeth CA, Taranto M, Fraser WD. (2013). Calculated free and bioavailable vitamin D metabolite concentrations in vitamin D-deficient hip fracture patients after supplementation with cholecalciferol and ergocalciferol. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23792937/
  12. Houghton LA, Vieth R. (2006). The case against ergocalciferol (vitamin D2) as a vitamin supplement. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17023693/
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