Isabel Coimbra
Isabel Coimbra
20 Out, 2016 - 15:51

Crónica #18: as papas, os morangos e a morcela

Isabel Coimbra

Olhem pessoas, nem sei que vos diga… podes comer, espera!, afinal, não podes. Faz bem, espera!, afinal, faz mal. Ser grávida é muito duro.

Crónica #18: as papas, os morangos e a morcela

As grávidas não imunes à toxoplasmose têm uma alimentação um pouco mais restritiva, porém, é tão limitada quanto a de qualquer outra pessoa que cumpra as indicações da roda dos alimentos com um ou outro extra. Mais pelo cuidado com a limpeza e confeção dos alimentos, do que com outra coisa qualquer. Mas as pessoas inquietam-se, valha-me Deus. 

Por exemplo, fruta e legumes não estão, de maneira nenhuma, excluídos da lista de alimentos que uma grávida pode consumir. Seja lá qual for a fruta ou legume. A única preocupação prende-se com a limpeza. Nada que uma generosa lavagem em água corrente abundante e um pouco vinagre para desinfetar não resolvam. Adeus, bactérias e doenças assustadoras! Olá, bebé e mamã felizes e saudáveis! Simples assim. Mas as pessoas inquietam-se, valha-me Deus.

E eu percebo porquê. Enquanto que, à partida, numa outra área da saúde, diferentes profissionais vão indicar, mais coisa menos coisa, o mesmo tipo de solução para um problema, quando se trata de bebés e grávidas, o caso muda drasticamente de figura. Andamos os dois banzados com isto!

Como se não bastasse o peso da responsabilidade e insegurança que vem com esta pessoa que trazemos na barriga, ainda temos que levar com esta diferença insana de conselhos e diagnósticos. Por exemplo, logo na primeira consulta, a médica recomendou-me que comesse rojões porque o sangue é ótimo para prevenir a anemia – quem diz o sangue dos rojões, diz morcela. 

Ora, esta semana, tive consulta na maternidade e, parva que sou (já tinha a primeira recomendação), perguntei à médica que me atendeu se podia comer papas de sarrabulho. Diz que não, que é melhor não facilitar. Que se tiver mesmo que ser, que devo congelar e só depois é que posso comer mas só se não controlar o desejo. Como ele estava presente… não tenho como fugir. Adeus, deliciosas papas da Festa da Broa!

No outro dia, outra parvoíce que não lembra a ninguém, fui publicar uma fotografia de uns morangos  e amoras que a vizinha me ofereceu. Caiu o mundo! Um amigo meu, a quem o médico da esposa proibiu de os comer, fez o favor de me assustar: “Óbela, tu não podes comer morangos! És imune à toxoplamose? Se fores, podes, se não fores, nem penses em comer!”. 

Mesmo a mostrar-lhe toda literatura que me deram no hospital (que não referia essa proibição) e garantindo que não há nenhuma fruta que a minha médica me tenha impedido de comer… ele insistia. Desde que estou grávida, toda eu sou (ainda mais) descontração e vai tudo correr bem mas paniquei de tal maneira que acabei por enviar um e-mail à médica. Conclusão: grávida descontraída – 1; pessoas histérias – 0!


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