Psicóloga Ana Graça
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21 Mai, 2018 - 10:38

Da paixão platónica à erotomania: quando o amor não é correspondido

Psicóloga Ana Graça

A paixão platónica é frequentemente unilateral e idealizada. É muito comum na fase da adolescência mas há quem sinta este amor de fantasia na idade adulta. Fique a conhecer as semelhanças da paixão platónica com a erotomania e saiba como tratar esta perturbação psiquiátrica rara. Leia este artigo e tire as suas dúvidas.

Da paixão platónica à erotomania: quando o amor não é correspondido

A origem do termo paixão platónica remonta há muito tempo atrás e está relacionada com o filósofo Platão e com a sua conceção de amor. Platão considerava que o ser humano era composto por uma alma e um corpo, sendo que a alma pertencia ao plano das ideias e o corpo ao plano material.

Para este filósofo o amor funciona como motivação ou impulso para tentar conhecer e contemplar a beleza em si, amar as formas ou ideias eternas, inteligíveis, perfeitas, que vão além da beleza física. O amor surge do desejo de descobrir e admirar a beleza em toda a sua plenitude (intelectual e espiritual), transcendendo as fronteiras da beleza física.

Todos fantasiamos com relações amorosas ideais, sobretudo na fase da adolescência, e sair do plano da idealização para a realidade envolve sempre algum risco. Somos postos à prova, aceitamos partilhar com a outra pessoa as nossas vulnerabilidades, arriscamos sofrer e ser rejeitados. Mas não envolve apenas riscos, já que os relacionamentos podem trazer inúmeros benefícios: o amor faz-nos crescer e sentir felicidade, mesmo que em algum momento implique algum sofrimento.

Em boa verdade, podemos dizer que todas as relações amorosas passam por uma fase inicial de paixão platónica. Inicialmente todos temos tendência a idealizar o futuro da relação e a pessoa amada, quase como se esta fosse imaculada, perfeita, cheia de qualidades e sem defeitos.

À medida que amadurecemos e que a relação desenvolve aprendemos a desfrutar da relação amorosa em toda a sua plenitude, com momentos de crescimento pessoal, partilha, alegria intensa e, por vezes, tristeza e decepção.

Paixão platónica na atualidade

paixao platonica e pensamento amoroso

A visão acerca da paixão platónica foi sofrendo distorções e alterações ao longo do tempo e hoje a maioria de nós utiliza este termo para se referir a um amor idealizado, não realizado, distante e não alcançável. Utilizamos o termo paixão platónica para nos referirmos a um amor idealizado, pouco ou nada provável de acontecer realmente, baseado na fantasia e não na realidade.

Muitas pessoas vivem amores platónicos, baseados no impossível, que nunca chegam a concretizar-se. Isto pode dever-se a múltiplos fatores: porque sentem dificuldade em aproximar-se de quem amam por timidez e insegurança; porque têm medo de sofrer e preferem viver um amor que nunca se irá realizar do que lidar com os eventuais desapontamentos e tristezas.

Da paixão platónica à erotomania

Quando pensamos na paixão platónica no sentido duma relação amorosa idealizada, fantasiada, sem conexão com a realidade, facilmente nos lembramos da erotomania, que é uma doença psiquiátrica rara e de difícil tratamento.

É uma perturbação delirante, uma paranóia específica. Pessoas com esta perturbação acreditam que são perdidamente amadas por outra pessoa. Há uma convicção delirante de união amorosa com outra pessoa de estatuto superior.

Frequentemente, a pessoa que o doente acredita estar perdidamente apaixonada por si não está na realidade disponível para tal, contudo, apesar de recusar e negar este amor, o delírio da pessoa com erotomania persiste. Os comportamentos de rejeição são interpretados como tentativas para pôr à prova o seu amor ou causados por outras pessoas que tentam interferir no relacionamento amoroso.

Uma pessoa com esta patologia tende a vigiar e tentar proteger constantemente a pessoa que acredita estar apaixonada por si, estabelece conversas indiretas com essa pessoa e acredita que a outra pessoa não pode ser feliz nem está completa sem ela.

A erotomania pode manifestar-se em qualquer idade desde a adolescência até à idade avançada e predomina no sexo feminino. O seu tratamento assenta numa abordagem multidisciplinar que combina tratamento farmacológico (os medicamentos antipsicóticos são os mais frequentemente utilizados) e terapias psicológicas (intervenções familiares, sociais e ambientais).

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