Nutricionista Rita Lima
Nutricionista Rita Lima
01 Mar, 2018 - 16:35

Nutrição Parentérica: o que é e quando utilizar?

Nutricionista Rita Lima

A nutrição parentérica é um regime de nutrição artificial usado em hospital para assegurar o cumprimento das necessidades nutricionais e energéticas.

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A nutrição desempenha um papel fundamental na promoção da saúde e do equilíbrio interno do organismo, sendo ainda mais relevante quando existe uma patologia de base. Em contexto hospitalar e no âmbito da nutrição clínica, quando os doentes não podem ou não conseguem ingerir alimentos por via oral, é necessário recorrer a regimes de nutrição artificial, nomeadamente a nutrição entérica e nutrição parentérica.

A implementação destes regimes de nutrição é fundamental para prevenir casos de desnutrição hospitalar, os quais são bastante comuns e que agravam a patologia de base e potenciam a morbilidade e mortalidade dos doentes.

Suporte nutricional: Nutrição entérica vs Nutrição Parentérica

A nutrição artificial está indicada quando um doente não se alimenta o suficiente por via oral, de modo a cobrir as suas necessidades energéticas e nutricionais. A nutrição artificial divide-se em nutrição entérica e nutrição parentérica.

A nutrição entérica define-se como o aporte de nutrientes através de uma sonda gástrica ou intestinal, enquanto a nutrição parentérica constitui um aporte de nutrientes, por via endovenosa.

Em que situações utilizar a nutrição parentérica?

nutricao parenterica grupos mais indicados

A escolha do suporte nutricional depende, essencialmente, da gravidade da doença e do grau de desnutrição do doente.

A nutrição parentérica é menos fisiológica e menos económica que a nutrição entérica, estando apenas indicada nas situações em que a entérica é insuficiente ou impossível de aplicar por obstrução/mau funcionamento do tubo digestivo.

  • Malnutrição proteico-calorica
  • Anorexia
  • Vómitos ou diarreia crónicos
  • Síndromes de má-absorção
  • Sepsis (infeção generalizada)
  • Pré e pós-operatorio
  • Politraumatizados, queimados e doentes com cancro a fazer radio ou quimioterapia.
  • Casos que necessitam de repouso funcional do tubo digestivo: Colite ulcerosa e Colite granulomatosa; Doença de Crohn; Doença celíaca; Fistulas digestivas; Pancreatite aguda; Oclusões funcionais

Apesar da importância da nutrição parentérica, é importante mencionar que o risco de infeção é elevado e, como tal, todos os cuidados de higienização têm de ser assegurados.

Modalidades de Nutrição Parentérica

nutricao parenterica composicao

A nutrição parentérica pode ser considerada parcial, se fornecer apenas uma parte dos nutrientes, ou total, se fornecer a totalidade dos nutrientes.

A forma mais comum de administração são as bolsas tricompartimentadas, que contêm aminoácidos, eletrólitos, glicose e gordura em todas a câmaras individuais, de modo a assegurar o fornecimento de todos os macronutrientes nas dosagens previamente definidas.

Já a via de administração pode ser central, através da veia jugular ou subclávia, para situações de longa duração ou em casos de ausência de vias periféricas disponíveis, ou periférica, normalmente veias dos membros superiores, para administrações de curta duração (inferior a 2 semanas).

Avaliação do estado nutricional dos doentes

nutricao parenterica avalicao nutricional do paciente

Como já referido, antes de avançar para regimes de nutrição artificial, principalmente para a nutrição parentérica, é importante avaliar o estado nutricional do doente, de modo a verificar a presença de desnutrição grave, existindo várias ferramentas validadas para esse efeito.

A sua avaliação assenta em critérios clínicos (como a história clínica, exame antropométrico, exame clínico), biológicos (como o doseamento de proteínas) e físicos.

1. História clínica

Consiste na avaliação de eventuais sintomas funcionais (falhas de memória, astenia, fadiga, dispneia de esforço), identificação da medicação habitual, pela possibilidade de interferir a nível do apetite e da absorção de nutrientes, alteração dos hábitos alimentares e intestinais (diarreia, obstipação, vómitos, …)

2. Exame antropométrico

O primeiro sinal de desnutrição é a perda de peso. A utilização do Índice de Massa corporal (IMC) para cálculo da desnutrição é importante, sendo valores inferiores a 17 um bom indicador desta situação.

Além do IMC, também uma perda de peso acentuada (até 10%) num curto espaço de tempo é um preditor de desnutrição.

3. Exame clínico

Queda de cabelo, pele seca, fina e descamativa, dermatite, petéquias, estomatite angular, lesões gengivais, entre outras, são claros sinais de desnutrição e carência de determinadas vitaminas e/ou minerais.

Além destes, é também importante avaliar o tecido muscular, as pregas adiposas, e a existência de edemas que apontem para uma desnutrição proteica relevante.

4. Parâmetros bioquímicos

Os parâmetros mais importantes para avaliar a desnutrição são as proteínas plasmáticas de origem hepática, preferencialmente, com semi-vida diferente.

A albumina é, por si só, um marcador biológico fiável associado a um aumento da morbilidade, quando a sua concentração é inferior a 35 g/l. Dada a sua semi-vida longa (20 dias) não reflete uma desnutrição “aguda”.

Já a pré-albumina, como tem um tempo de semi-vida mais curto, permite uma avaliação mais sensível e imediata do estado nutricional.

A transferrina tem uma semi-vida de 8 dias e constitui um marcador muito sensível da desnutrição.

5. Ferramentas de Rastreio

Além dos parâmetros mencionados anteriormente, existem diferentes ferramentas de rastreio de desnutrição disponíveis, nomeadamente a NRS-2002 (“Nutrition Risk Screening”), a “MUST” (“Malnutrition Universal Screening Tool”) e a SGA (“Subjective Global Assessment”), de aplicação hospitalar.

conclusão

Para que a avaliação seja o mais rigorosa possível e se traduza em melhores resultados, é crucial a existência de equipas multidisciplinares, constituídas por Médicos, Farmacêuticos, Enfermeiros, Nutricionistas, que permitam uma abordagem integrada, adaptada a cada caso e a cada doente.

O suporte nutricional adequado e a administração de nutrição parentérica em casos de desnutrição grave, traduz-se, diretamente, numa melhoria do estado nutricional, diminuição da perda de massa muscular, melhor capacidade de recuperação e cicatrização e melhoria na resistência às infeções, promovendo uma diminuição da morbilidade, mortalidade e do tempo de internamento.

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