Nutricionista Hugo Canelas
Nutricionista Hugo Canelas
11 Mai, 2020 - 02:05

Levedura de cerveja: conheça a sua riqueza nutricional

Nutricionista Hugo Canelas

A levedura de cerveja é um dos alimentos mais populares usados na cozinha vegan. Fique a par dos seus potenciais benefícios.

Levedura de cerveja em pó numa tábua de madeira

Muitos estudos demonstraram que a riqueza nutricional da levedura de cerveja potencia alguns benefícios para a saúde, incluindo a redução dos níveis de colesterol total.

Neste artigo explicamos o que é a levedura de cerveja, revemos os potenciais benefícios para a saúde e demonstramos como pode ser usada no dia a dia.

O que é a levedura de cerveja?

Grânulos de levedura de cerveja

A levedura de cerveja é uma espécie de fungo conhecido como Saccharomyces cerevisiae. Na verdade, é exatamente o mesmo tipo de levedura utilizada na fermentação dos cereais para produzir cerveja.

Existem dois tipos de levedura de cerveja para uso nutricional: a fortificada e a não fortificada.

  1. Não fortificada: este tipo não contém vitaminas ou minerais adicionados, apenas os que são naturalmente sintetizados pelos microrganismos durante a cultura.
  2. Fortificada: este tipo contém vitaminas sintéticas adicionadas durante a produção, como forma de aumentar a riqueza nutricional.

A levedura de cerveja pode ser encontrada na forma de flocos, grânulos ou em pó, sendo um alimento versátil que pode ser incluído em quase todos os tipos de dieta, sendo naturalmente baixo em sódio e em calorias, sem gordura, açúcar ou glúten.

Levedura de cerveja: Riqueza nutricional

Flocos de levedura de cerveja

A levedura de cerveja, especialmente a versão fortificada, é uma ótima forma de obter vitaminas do complexo B e oligoelementos.

Informação nutricional dos flocos de levedura de cerveja por cada 100g (1):

  • Valor energético: 400 calorias
  • Proteínas: 53,3 g
  • Lípidos: 3,33 g
  • Hidratos de carbono: 33,33 g dos quais açucares: 0 g;
  • Fibra: 20 g
  • Vitamina B12: 117,3 mcg
  • Ferro: 6,7 mg
  • Sódio: 167 mg

Mais especificamente, os benefícios nutricionais da levedura incluem:

  • Proteína completa: a levedura de cerveja contem todos os 9 aminoácidos essenciais. Uma colher de sopa fornece cerca de 5 gramas de proteína, tornando fácil enriquecer as refeições neste nutriente (1).
  • Vitaminas do complexo B: 1 colher de sopa de levedura contem 30 a 180% das doses diárias recomendadas de vitamina B. Quando fortificada, é especialmente rica em tiamina, riboflavina, niacina, vitamina B6 e vitamina B12;
  • Oligoelementos: 1 colher de sopa contem até 30% das doses diárias recomendadas de minerais como zinco, selénio, manganésio e molibdénio, nutrientes envolvidos na regulação de genes, metabolismo, crescimento e imunidade (2, 3).
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Ajuda a prevenir a carência em vitamina B12 nos vegetarianos

Algumas das funções da vitamina B12 incluem a produção de ADN e de glóbulos vermelhos, o normal funcionamento do sistema nervoso e do metabolismo energético (4, 5).

Uma vez que esta vitamina apenas se encontra em níveis expressivos nos alimentos de origem animal, os vegetarianos constituem um dos grupos de risco de carência (6, 7).

Um estudo mostrou que o consumo de 1 colher de sopa de levedura de cerveja fortificada (correspondente a 5 mcg) por dia é o suficiente para normalizar os níveis de vitamina B12 em vegetarianos (8).

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Conteúdo em antioxidantes

Os antioxidantes da dieta ajudam o corpo a reparar o dano causado pelas contantes agressões sofridas, quer por agentes externos como o fumo do tabaco e poluição, quer por agentes internos como produtos do metabolismo dos nutrientes.

A levedura de cerveja apresenta dois potentes antioxidantes, a glutationa e a selenometionina, agentes que ajudam a proteger as células do dano causado pelos radicais livres e promovem a eliminação de toxinas (9, 10).

O consumo de alimentos ricos em antioxidantes, incluindo a levedura de cerveja, podem ajudar a baixar o risco de doenças crónicas como o cancro e as doenças cardiovasculares (11, 12).

Pode ajudar a promover uma resposta imunitária ótima

Estudos em animais demonstram que adicionar alfa-manano e beta-glucano, dois tipos de hidratos de carbono presentes na levedura de cerveja – pode ajudar a reduzir a frequência de infeções por E. coli e Salmonella em porcos e a formação de tumores em ratos (13, 14).

Embora os estudos em animais sejam promissores, será necessária mais pesquisa em para determinar se os efeitos do alfa-manano e do beta-glucano em seres humanos são semelhantes.

Pode ajudar a baixar os níveis de colesterol

Um estudo realizado em homens determinou que o consumo de 15 g diários de beta-glucano proveniente da levedura, durante 8 semanas, ajudou a baixar os níveis de colesterol total em 6% (15).

Este mesmo efeito do beta-glunano encontrado em outros alimentos como a aveia já foi estudado e confirmado (16, 17, 18, 19) e embora a estrutura química seja ligeiramente diferente, os dados sugerem que o efeito hipocolesterolemiante dos dois tipos seja similar (20).

No entanto, nenhum estudo até à data confirmou se o consumo de levedura de cerveja – e não apenas do beta-glucano isolado – apresenta os mesmos benefícios.

Como usar a levedura de cerveja?

Levedura de cerveja no iogurte

A levedura de cerveja deve ser armazenada num lugar seco, escuro e fresco de forma a preservar o conteúdo vitamínico.

Este alimento pode ser incorporado em sopas, iogurtes, batidos, molhos e sumos, embora possa alterar ligeiramente o sabor dos produtos originais.

Uma vez que são necessárias quantidades muito elevadas de levedura de cerveja para atingir os níveis máximos de tolerância dos vários minerais e vitaminas, na maioria dos casos, é seguro utilizar este alimento. A dose recomendada é de 1 a 2 colheres de sopa por dia.

Em alguns casos, particularmente pessoas alérgicas, grávidas e lactantes, pessoas com doença de Chron e com problemas no metabolismo do ácido fólico não devem consumir este alimento (21, 22).

Fontes

  1. USDA. (n.d.). Large flake nutritional yeast. Disponível em: https://fdc.nal.usda.gov/fdc-app.html#/food-details/575722/nutrients
  2. Walsh, C.T., et.al. (1994). Zinc: health effects and research priorities for the 1990s. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1567081/
  3. Fraga, C. G. (2005). Relevance, essentiality and toxicity of trace elements in human health. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0098299705000464
  4. O’Leary, F., & Samman, S. (2010). Vitamin B12 in Health and Disease. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22254022
  5. Clarke, R., et.al. (2003). Screening for vitamin B-12 and folate deficiency in older persons. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12716678
  6. Pawlak, R., Lester, S. E., & Babatunde, T. (2014). The prevalence of cobalamin deficiency among vegetarians assessed by serum vitamin B12: a review of literature. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24667752
  7. Pawlak, R., et.al. (2013). How prevalent is vitamin B12deficiency among vegetarians? Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23356638
  8. Donaldson, M. S. (2000). Metabolic Vitamin B12 Status on a Mostly Raw Vegan Diet with Follow-Up Using Tablets, Nutritional Yeast, or Probiotic Supplements. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11146329
  9. Alfafara, C., et.al. (1992). Effect of amino acids on glutathione production by Saccharomyces cerevisiae. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/BF00170199
  10. Korhola, M., et.al. (1986). Selenium yeast. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3521441
  11. Hirvonen, T., et.al. (2001). Intake of Flavonols and Flavones and Risk of Coronary Heart Disease in Male Smokers. Disponível em: https://journals.lww.com/epidem/Fulltext/2001/01000/Intake_of_Flavonols_and_Flavones_and_Risk_of.11.aspx
  12. Liu, R. H. (2003). Health benefits of fruit and vegetables are from additive and synergistic combinations of phytochemicals. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12936943
  13. Kogan, G., & Kocher, A. (2007). Role of yeast cell wall polysaccharides in pig nutrition and health protection. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1871141307001369
  14. Harnack, U., et.al. (2011). Beta-(1-3),(1-6)-D-glucan Enhances the Effect of Low-dose Cyclophosphamide Treatment on A20 Lymphoma in Mice. Disponível em: http://ar.iiarjournals.org/content/31/4/1169.short
  15. Bashir, K. M., & Choi, J.-S. (2017). Clinical and Physiological Perspectives of β-Glucans: The Past, Present, and Future. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28872611
  16. Othman, R. A., Moghadasian, M. H., & Jones, P. J. (2011). Cholesterol-lowering effects of oat β-glucan. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21631511
  17. Queenan, K. M., et.al. (2007). Concentrated oat β-glucan, a fermentable fiber, lowers serum cholesterol in hypercholesterolemic adults in a randomized controlled trial. Disponível em: https://nutritionj.biomedcentral.com/articles/10.1186/1475-2891-6-6
  18. Reyna-Villasmil, N., et.al. (2007). Oat-derived ??-Glucan Significantly Improves HDLC and Diminishes LDLC and Non-HDL Cholesterol in Overweight Individuals With Mild Hypercholesterolemia. Disponível em: https://journals.lww.com/americantherapeutics/Abstract/2007/03000/Oat_derived__beta__Glucan_Significantly_Improves.15.aspx
  19. Whitehead, A., et.al. (2014). Cholesterol-lowering effects of oat β-glucan: a meta-analysis of randomized controlled trials. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25411276
  20. Bell, S., et.al. (1999). Effect of β-Glucan from Oats and Yeast on Serum Lipids. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10198754
  21. Simon-Nobbe, B., et.al. (2007). The Spectrum of Fungal Allergy. Disponível em: https://www.karger.com/Article/PDF/107578
  22. Nittner-Marszalska, M., et.al. (2001). Skin prick test response to enzyme enolase of the baker’s yeast (Saccharomyces cerevisiae) in diagnosis of respiratory allergy. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11208506
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A não esquecer

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