Fisioterapeuta Ana Vicente
Fisioterapeuta Ana Vicente
18 Out, 2017 - 12:55

Fascite plantar: será esta a origem da sua dor no pé?

Fisioterapeuta Ana Vicente

A fascite plantar é comum em pessoas de meia-idade. Também ocorre em pessoas mais jovens que passam muito tempo de pé. Pode acontecer em um ou ambos os pés.

Fascite plantar: será esta a origem da sua dor no pé?

A fascite plantar é o resultado de um processo degenerativo que ocorre ao nível da fáscia plantar. Mas o que é afinal a fáscia plantar? É uma estrutura que desempenha um papel muito importante na biomecânica normal do pé. A fáscia é uma faixa plana de tecido conjuntivo fibroso (constituído sobretudo por colagénio, elastina e água), que se estende do osso do calcanhar aos ossos dos dedos dos pés, sendo fundamental na sustentação do arco do pé e na absorção de choques.

Apesar do termo de diagnóstico conter o segmento “ite”, que está associado à presença de inflamação, atualmente acredita-se que esta condição é caracterizada pela ausência de células inflamatórias e que a degeneração da fáscia é uma causa mais provável.

Fascite plantar: causas e fatores de risco

fascite plantar e dor no calcanhar

Apesar das causas não serem claras, pensa-se que a fascite plantar é frequentemente uma lesão provocada pelo uso excessivo, onde a tensão repetida sobre a fáscia vai levando ao aparecimento de micro-ruturas. No entanto, pode ocorrer igualmente como resultado de traumas ou outras causas multifatoriais.

Alguns fatores predisponentes são os pés planos, os pés cavos, movimento limitado na articulação do tornozelo e pronação ou supinação excessiva do pé. O pé plano representa uma diminuição do arco plantar do pé, o que pode levar ao aumento da tensão na origem da fáscia plantar. Já o pé cavo caracteriza-se pelo oposto, ou seja, pelo exagero da curvatura do arco plantar. Esta deformidade causa tensão excessiva no calcanhar, pois a absorção dos choques encontra-se seriamente comprometida. Já na pronação o peso corporal recai sobre a parte interna do pé, ocorrendo o oposto na supinação.

Os músculos posteriores da perna também se encontram frequentemente tensos nas pessoas com esta condição. Pensa-se que a tensão nestes músculos possa alterar a biomecânica normal da deambulação levando, neste caso, à sobrecarga da fáscia plantar.

A fascite plantar é muitas vezes associada a corredores, a bailarinos e a adultos mais velhos, mas a obesidade e ocupações que exijam a permanência prolongada na posição de pé são outros fatores de risco a ter em conta.

Fascite plantar: sintomas

dor no calcanhar ao caminhar

A fascite plantar geralmente provoca uma dor aguda na planta do pé, próximo do calcanhar. Normalmente, a dor é mais intensa durante os primeiros passos depois de acordar, embora também possa ser despertada após longos períodos na posição de pé ou ao levantar-se. A dor costuma piorar após o exercício físico e não durante.

A sensação de ardor na planta do pé também é um sintoma que os pacientes costumam descrever nesta condição. Se a dor surge sobretudo durante a noite outros problemas poderão estar na origem, como a artrite ou a compressão de um nervo.

Fascite plantar: diagnóstico

medica a examinar pe de paciente

O diagnóstico é baseado sobretudo na história médica e no exame físico. A fascite plantar provoca sensibilidade ao longo da planta do pé, sobretudo na parte interna do pé. A dor geralmente pode ser reproduzida ao tocar na parte mais interna da planta do pé e na zona do calcanhar, o local de onde parte a fáscia plantar.

O movimento de levar os dedos do pé para cima usualmente também desperta a dor. Achados secundários como a tensão no tendão de Aquiles, pé plano ou pé cavo, também podem ser encontrados. Também será conveniente avaliar a forma de caminhar, de forma a detetar anomalias na biomecânica da marcha, bem como fatores que predispõem ao agravamento da fascite plantar.

Geralmente os exames de diagnóstico, como os raios-x e a ecografia, são úteis para despistar outras lesões ou condições e assim confirmar que a dor se deve à fascite plantar.

Fascite plantar: tratamento

tratamento da fascite plantar

A primeira abordagem no tratamento da fascite plantar deverá ser feita de um modo conservador através da fisioterapia. Inicialmente as técnicas visam sobretudo o alívio dos sintomas. O repouso relativo da atividade que agrava os sintomas deve ser considerado. A aplicação de gelo, a compressão e a elevação do pé também poderão ajudar numa fase inicial, se houver a presença de inflamação.

A aplicação de ligaduras por parte do fisioterapeuta também é uma forma de aliviar instantaneamente a tensão sobre a fáscia e, consequentemente, aliviar a dor. É igualmente importante usar sapatos confortáveis, evitando sapatos de sola dura e/ou plana, bem como sapatos de salto alto.

A eletroterapia (uso de correntes elétricas com fins terapêuticos), a terapia miofascial (abordagem que visa o equilíbrio da fáscia), a massagem, alongamentos e exercícios específicos para a fáscia são outras abordagens utilizadas frequentemente pelo fisioterapeuta.

A reeducação global da postura e a análise da forma de caminhar são também essenciais para a eficácia do tratamento. E porquê? A fáscia é uma estrutura contínua que se estende da cabeça aos pés e um desequilíbrio num determinado ponto irá, obrigatoriamente, provocar outros desequilíbrios no corpo. Quando se realiza uma avaliação aprofundada da postura poderão ser encontrados desequilíbrios que estão associados ao agravamento da fascite plantar.

Por outro lado, ignorar a fascite plantar poderá resultar numa dor crónica no calcanhar que irá comprometer a realização das atividades do dia-a-dia. A postura e a forma de caminhar irão mudar de forma a minimizar a dor, mas isso conduzirá ao surgimento de outros problemas nas restantes articulações (por exemplo nos joelhos, ancas e coluna).

A cirurgia deverá ser a última opção, mas poderá ser uma alternativa quando as abordagens conservadoras não funcionam.

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