Psicóloga Ana Graça
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01 Mar, 2023 - 16:00

Criar ligação com filhos adotivos: os desafios

Psicóloga Ana Graça

Criar ligação com filhos adotivos, tal como com filhos biológicos, é um compromisso diário. Entenda como superar os medos e desafios.

Parentalidade adotiva: criar ligação com filhos adotivos

A adoção é um ato de amor profundo, razão pela qual criar ligação com filhos adotivos não é sinónimo de nenhuma dificuldade acrescida – especialmente quando estamos a falar da adoção de bebés ou de crianças pequenas. Contudo, não nos podemos esquecer que crianças e jovens adotados podem desenvolver sintomatologia em consequência de situações de privação, abandono ou outras de natureza traumática pelas quais tenham passado.

Do lado dos pais, não nos podemos deixar de lembrar que ambos podem ter vivido situações mais delicadas antes do processo de adoção, em que pode ter existido um intenso processo de luto decorrente de uma situação de infertilidade e do abandono do desejo de constituir uma família biológica.

Vamos saber mais sobre este tema delicado e entender por quais motivos, por vezes, criar ligações com filhos adotivos pode ser desafiante para todas as partes.

Criar ligação com filhos adotivos

Os medos dos pais que estão a ponderar a adoção

É natural que a fase de pré-adoção esteja repleta de dúvidas, ansiedades e um misto de emoções. Neste período, os pais questionam a sua capacidade para criar ligação com filhos adotivos.

Saiba quais são os principais receios dos pais que estão a viver esta fase:

  • receio de não serem aceites nem conseguirem estabelecer uma relação afetiva com a criança;
  • medo de que a criança manifeste comportamentos que possam ser sintoma de rejeição ou dificuldade de adaptação ao novo espaço familiar;
  • medo da herança genética que a criança transporta consigo;
  • receio de impor autoridade e disciplina: medo de deteriorar o afeto que a criança vai sentir ou de lhe causar mais prejuízo do que aquele que já possa ter vivido no passado;
  • receio de ver defraudadas as expectativas que tenham criado em relação às aprendizagens e desempenho escolar;
  • quando são adotados adolescentes os receios tendem a aumentar, pela complexidade inerente a esta fase de desenvolvimento;
  • receio de não possuírem as competências parentais necessárias para criar ligação com filhos adotivos.

Famílias adotivas e famílias biológicas: diferenças e semelhanças

Muitos dos efeitos que decorrem do nascimento de um filho são semelhantes à integração de uma criança adotada na família: divisão das tarefas; diminuição da intimidade do casal; alteração dos padrões de comunicação.

Contudo, existem singularidades num sistema familiar adotivo que não ocorrem nas famílias biológicas:

  • ausência de gravidez;
  • decisão de adotar;
  • possibilidade de escolha de algumas características da criança;
  • ausência de tempo definido até à parentalidade;
  • a criança adotada apresenta uma história anterior e identidade alheias à história da família adotiva;
  • idade mais avançada dos pais na transição para a parentalidade.

As famílias adotivas podem ainda ter que enfrentar outros desafios:

  • a questão da infertilidade;
  • a gestação psicológica que pode ser longa;
  • o processo de avaliação a que os pais são submetidos;
  • o estigma social inerente à adoção que ainda existe em alguns meios;
  • a curiosidade que a criança adotada pode manifestar em relação à família biológica.

Estas particularidades não têm de ser vistas forçosamente como algo negativo, afinal todas as famílias têm momentos de tensão, satisfação, esforço, preocupação e alegria, seja adotivas ou biológicas.

Há estudos que avançam que apesar destas particularidades e desafios que as famílias adotivas enfrentam, não se distinguem das famílias biológicas no que toca à qualidade e satisfação familiar, à qualidade dos vínculos afetivos e à parentalidade positiva.

O segredo para criar ligação com filhos adotivos é transmitir confiança e uma atmosfera geral de bem-estar orientada para as necessidades das crianças.

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A missão dos pais adotivos

A adoção permite que estas crianças estabeleçam novos vínculos, desta vez com padrões de vinculação saudáveis. É natural que as crianças tragam dúvidas sobre o passado, receios em relação ao presente e expectativas em relação ao futuro. É tarefa dos pais adotivos criar ligação com os filhos adotivos não os deixando enfrentar estas dúvidas sozinhos.

Também é verdade que, apesar da maior parte das famílias adotivas não apresentar qualquer problema, as crianças adotadas, sobretudo na idade escolar e na adolescência, podem vir a apresentar mais problemas ou dificuldades – esta é uma possibilidade, não uma regra, que pode decorrer de inúmeras situações vividas no passado, de sentimentos mal resolvidos ou de dúvidas que permaneceram.

Nesta situação, perante a dificuldade de solucionarem sozinhos os problemas, os pais adotivos podem e devem recorrer a especialistas de saúde mental.

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